4 de out. de 2010

Reflexos de um espelho em cacos.



“Era uma vez uma princesa com uma beleza majestosa. Filha mais velha, Malvina, era também, uma conhecedora da magia negra. Apesar do nome era dona de uma bondade estonteante, ajudava quem podia com tudo que estava ao seu alcance. Viviam num reino próspero em que o amor, a compaixão, e a bondade andavam de mãos dadas para juntas fazerem justiça.
Malvina era loira, alta, de olhos aquosos que dava a impressão de que quando encarados transpareciam serenidade e ternura. Homens curvavam diante de sua magnitude alimentando a cada dia o ego que crescia dentro daquele anjo negro.
Branca de Neve era sua irmã mais nova, meio desajeitada, tinha uma pele tez, branca como a neve e cabelos negros como a noite que escorriam sobre sua face, mesmo não sendo tão bela quanto Malvina, Branca de Neve sempre fora a favorita do rei e fazia disso uma oportunidade para contar vantagem sobre as outras duas irmãs (Malvina e Melissa). BN tinha uma característica redentora, uma dom que a fazia perceptível em qualquer ambiente que ela estivesse: O carisma”
_Estão vendo! É disso que estou falando. Como puderam, vocês, esquecerem disso?
_Bruxa Maldita, queimem-na!!!
Fatigados com aquelas histórias que viam no espelho e sedentos por sangue, o povo, clamava por morte.
_Não, por favor, queimada não! Não depois do que aconteceu com meu pai...
Parece que aquelas palavras haviam despertado o espelho deformado que voltara a contar e mostrar a história como prova do incidente:
“Houve, portanto, o dia em que o elo entre o amor, a compaixão e a bondade rompeu e libertou as chamas do ódio, maldade e indiferença.
Pinga, pinga, pinga. Gotas de fogo escorregavam das roupas em chamas que se desmanchavam em cinzas. Crianças, jovens, velhos, guardas, nobres, todos saiam do castelo gritando de agonia com seus corpos em chamas e seus rostos desconfigurados.
Sirenes eram ouvidas ao longe e no coração daquelas pessoas, uma labareda de esperança se acendeu lutando contra aquelas que teimavam em consumir cada centímetro do físico e da alma.
Gritos, algazarra, berros, gemidos, alvoroço, sirenes, alarmes, fogo, bagunça, chamas, labaredas, sangue, corpos, mortes, mortes, mortes.
Malvina se encontrava encostada numa parede úmida à 100m do acidente, as sombras a protegiam, estava paralisada em estado de choque, com medo. As chamas se arrastavam à procura dela.
_ O que Vossa Majestade está fazendo aí parada enquanto essas pessoas morrem na sua frente? Se escondendo?
Malva já estava acostumada com a freqüente presença daquela garota branca, tão misteriosa.
_BN fazendo sua caminhada matinal?
_Apesar de você não ter respondido minha pergunta. Não, estou presenciando a desgraça dos outros, a morte, o agouro, é disso que me alimento.
Aquelas palavras foram como estacas cravadas no peito de Malva.”
_Blasfêmia!
Todos olhavam agora para BN que pelo ponto de vista do espelho parecia ser a culpada.
_Como podem acreditar num espelho que as imagens não passam de borrões? A visão é tão ruim que enxergamos duas pessoas iguais! Não passam de devaneios desse espelho louco!
Malvina tomou partida pelo espelho:
_É claro que a imagem é deformada, VOCÊ O QUEROU!
O rei interrompeu a conversa e deu procedimento ao julgamento. Todos olharam para a principal testemunha: O espelho trincado.
“Após aquele terrível incidente no qual todo o reino fora queimado, Malvina se encontrou sozinha na floresta. Sua vida dependia da sobrevivência selvagem, seu pai e sua irmã Melissa haviam morrido no incêndio e Branca de Neve fugira para dentro da floresta.
Malvina se estabelecera numa caverna linda, parecia até mágica de tanto brilho e paz. Lá ela encontrou um espelho que tinha o dom da fala e do discernimento. A única coisa que a mantinha viva era sua beleza. Sua vida passara a ser amargurada, sem família, e sem poder para fazer justiça contra sua irmã. Ficara conhecida como a Bruxa Malvada, por adorar a si mesma e tentar fazer o certo usando magia negra. A cada dia ela era odiada, injustiçada e culpada por algo que ela não havia feito.
Todos os dias, por anos, a “Bruxa” acordava e se dirigia ao espelho e fazia a mesma pergunta:
‘Espelho, Espelho meu, existe alguém mais lindo do que eu?’
A resposta sempre fora a mesma:
‘ Não minha senhora, não há’
A compaixão que antes reinaram absoluta no coração de Malva dera lugar a vingança, que estava à procura de BN, esperando só o momento certo.”
_Há, há, há. Quem riu por ultimo irmãzinha? Sussurrara BN no ouvido de Malva.
A algazarra era ensurdecedora, pareciam gralhas todas “falando” ao mesmo tempo dentro dum salão de pedra produzindo ECO ECO ECO ECO.
“ Começara então uma era de trevas, em que duas bruxas lutavam medindo suas forças. BN havia sido acolhida por 7 inocentes anões, e com sua grandeza os manipulava indiscriminadamente. Seu amadurecimento e sua convivência com a pureza dos anões a deixara mais atraente e foi assim que Malvina tomara conhecimento de onde sua irmã se enfiara. O espelho mágico uma vez a respondera:
_ Sim! Há uma linda jovem chamada Branca de Neve, ela mora na floresta com 7 anões.
Uma série de investidas contra BN recomeçara. E uma funcionou: Malvina envenenara uma maçã e oferecera à sua irmã fazendo com que ela mordesse o fruto. Sua fisionomia mudara, envelhecera, secara, sendo assim a “inocente” Branca de Neve não a reconhecera.
Por fim, BN adormecera e Malvina fugira achando que seus problemas haviam sido resolvidos, e talvez até haveriam, se não fosse pelo ódio que havia tomado sua alma, ela virara a vingança em pessoa e nada a pararia até que todos os responsáveis pelo acidente fossem mortos.
Chegando a sua caverna, recebera a notícia:
_BN foi salva pelo príncipe de Datland! O rei do nosso reino aliado tomou posse do nosso território e agora está atrás da irreverente que causou aquele mal à amada de seu filho.
Mal o espelho terminara de retratar a história, e os cavaleiros do rei já estavam à sua porta, a prendendo e revirando o lugar. Sua irmã estava junto e a primeira coisa que fizera foi quebrar o espelho na esperança de que ele se calasse para todo o sempre”.
_Após o testemunho do espelho tenho que admitir que Malva fora injustiçada em sua vida, conquanto isso não justifica suas atitudes. Condeno-a à pena de morte.
_O quê? E a minha irmã ficará impune?
_De acordo com os fatos apurados BN não fez nada que a aponte como criminosa. Decreto morte a você e ao espelho... Toc-toc-toc. O julgamento está encerrado.
Guardas carregaram a ex-princesa em direção a forca e o povo seguiu atrás clamando por morte.
As cordas foram reguladas em volta do pescoço de Malvina e apenas o aceno do rei separava este do outro mundo, se houvesse outro mundo.
O rei se aproximou até onde somente ele e a condenada pudessem ouvir as palavras ditas:
_Adeus querida, o seu lugar é no inferno, junto ao seu mísero pai.
Ela olhou exasperada sem entender e viu BN junto do príncipe, apenas piscou e deu um sorriso. E em seguida o rei acenou.
FIM