19 de dez. de 2013

A transformação da infância em mercadoria


Sem a brincadeira da quitandinha com o dinheiro de folhas de árvores, as crianças entram no universo do consumo tão cedo quanto os pais decidem dá-las uma mesada.
Valores comerciais são ensinados para as crianças cada vez mais cedo. Começando aos 4 anos, atualmente.

Se considerarmos o sistema de punição brasileiro aos infratores, um pai que penaliza os filhos pelos erros reduzindo parte da mesada está certo. Mas aí entra a questão de que a melhor forma de se corrigir um problema na  infância, é ensinando e não limitando, como é apresentado no artigo de opinião que trata um pouco sobre a cadeia do desenvolvimento.
O caso do pai que reduzia a mesada dos filhos como forma de punição, correu internet e se resume da seguinte maneira: Vitor Yamada e Suen Copiak decidiram criar uma planilha que determina descontos na mesada, de 50 reais, dos seus filhos de 6 e 8 anos.  A cada infração cometida, retiradas de 25 centavos à 3 reais poderiam ser subtraídas do valor no final do mês. Esse tipo de tratamento da infância faz parte de uma psicologia behaviorista que acredita na teoria do estímulo e resposta. O que faz tudo isso não dar certo, como forma de educação, é o fato de a teoria não levar o sujeito em consideração.
Vale ressaltar que é interessante os pais verem a necessidade de transmitir valores com a mesada. A educação financeira infantil é recomendada para desenvolver princípios como responsabilidade, planejamento, consumidorismo sustentável e limites, como elenca o site do Governo do Rio de Janeiro. Porém, esse método é perigoso no que tange a possibilidade dos filhos se prenderem ao que os pais querem deles.
"Filho, eu não quero que você venha dormir no meu quarto. Se vier ou fizer xixi na cama de medo, descontarei da sua mesada no final do mês". Por mais que esse não seja o discurso reproduzido, ele carrega a mesma essência do que aquele pai fez em criar a lista.  É típico dos progenitores idealizar os filhos que querem. Muito antes do menino ou menina nascer, os pais fazem planos e criam expectativas em relação ao desempenho e futuro da sua prole.
Nesse sentido, tudo que se afasta do ideal é punido. A mesada entra nesse mecanismo educativo, ela não é ruim, mas o que fazem com ela pode chegar a ser. Certo seria se ela fosse implantada, desde que os beneficiados praticassem coisas boas que auxiliassem no desenvolvimento de suas habilidades pessoais. Reprimir a personalidade de uma criança não ajuda a ensinar um caráter virtuoso, pois não se compra compaixão, solidariedade e afeto com 25 centavos.
Por mais que seja importante, a mesada, se dada por pais relapsos que não acompanham os gastos dos pequenos, só ajuda a inserir a criança no universo do capitalismo desenfreado. Aquele que retira a experiência da brincadeira onde uma folha de laranjeira grande vale mais do que uma de limoeiro na compra do mês. Uma vez que a infância deveria ser a fase em que a vida segue sem as preocupações de um tempo consumista.
O que não fazer para ganhar 50 reais.
Alguns tópicos presentes na lista do casal geram controvérsias. Não é dever de um pai prezar pelo bem estar do filho? 
- Não colocar o cinto de segurança.
- Ir de madrugada para a cama dos pais.
- Pular no sofá/cadeiras.
- Comer na sala de lazer/TV.

16 de set. de 2013

Blog de cara nova: uma discussão sobre o prazer.

De um ano para cá, por influência de uma grande amiga, comecei a pensar melhor as questões do feminismo, sexualidade, estudo de gêneros. Fiz isso pensando na importância  de se entender esses aspectos para compreender nossa própria situação dentro desse complexo.

Dissertar um pouco sobre o assunto, pode me ajudar a liberar as questões que rondam a minha cabeça. Creio que, da mesma forma, esse texto serve como introdução para a nova cara que eu quero dar ao BLOG: Um espaço de debate sobre esses temas.

A base das minhas reflexões se funda na leitura do site Escreva Lola Escreva, no livro Histórias íntimas da Mary del Priori e em alguns filmes indicados pelo Cinetoscópio  sobre as questões de gêneros. Recomendo todo esse material. São acessíveis, de leitura fácil e prazerosa. Aliás, é bem no prazer que eu quero tocar.

Já pensou se o prazer não existisse? Esse é o ponto que mais me instiga em todo o universo humano. É, também, um assunto bem abordado pela Mary. Terminei de ler o livro pensando: Porra, o mundo é movido pelo prazer e não pelo dinheiro. A grana só seria a geradora de uma "satisfação", leia-se aqui como sinônimo do termo, mais artificial. Já o coito, configurar-se-ia como a plenitude do prazer humano.

Essa ideia pode parecer meio antiquada dependendo do raciocínio que seguir, como por exemplo, pensar que o ser humano é superior a qualquer outra espécie animal porque sente mais prazer. Apesar dessa tese ser defendida por alguns estudiosos, como explica a fraca matéria, diga-se de passagem, da Superinteressante. Nela, afirma-se: "Nosso cérebro, por exemplo, talvez não se desenvolvesse tanto [se não sentíssemos prazer]".

Mas se pensarmos que existe a possibilidade de o desenvolvimento humano ter acontecido para aumentar a percepção e as opções de prazer, a história já é outra. Eu sei que isso pode parecer Hedonismo ou Epicurismo, mas essa não é a intenção. É pensar mais humanamente, e propor um diálogo fora do plano metafísico.

Os médicos do século XIX já viam a questão do sexo como algo interessante de ser estudado. E, apesar da proibição do coito fora da questão de reprodução e da figura da mulher ser submissa, os doutores exaltavam o orgasmo e o entendiam como o maior dos prazeres. Vale ressaltar que, para o pensamento deles, isso era essencial na espécie humana. Sem o coito, não haveria criação e assim, a espécie não sobreviveria. Faz sentido, não?

Enfim, eu não tenho uma resposta e não quero alongar para não ficar chato. Mas é uma questão que, acima das problemáticas de gêneros e orientações sexuais, deve ser discutida. Já que o povo brasileiro adora falar sobre sexo, bora falar, também, de prazer.


7 de ago. de 2013

O sedutor de barba




Todo dia, um homem desce do carro para entregar umas crianças lá na escola.
Deve ser tio das meninas.
Toda vez, fica me olhando enquanto elas entram na sala.
Eu permaneço na porta e vou tomando ares mais sedutores.
Na última, não deu outra, ele não parou de me olhar.
Resolvi fazer a egípcia, fingir que não era nada comigo.
Mas ele parou e puxou um papo, conversa normal. Era sempre o mesmo assunto.
Olhou nos meus olhos.
Sem nada mais a dizer, ficou aquele momento constrangedor com o silêncio reverberando entre nós.
Lindo. Ele é muito bonito. Estilo macho com barba sabe?
Resolvi fazer o simpático. Sorri, mas na minha.
Ele me seguiu com os olhos enquanto ia para o seu carro.
Eu disse: "Tchau, obrigado."
Ele nem respondeu, ficou lá até que eu fechasse o portão.
Quinta-feira vai rolar uma festa da sobrinha dele aqui na escola.
Quem sabe nos topamos, por acaso, no banheiro.

PS: Essa história é real e foi contada por um amigo meu.

21 de jun. de 2013

Os demônios da homossexualidade

A ciência, a religião e a lei na cura do homossexual.

Por Lucas Panek
Poucos manifestantes, nos atos contra o aumento da passagem, protestam contra o projeto da "cura gay". (FONTE: G1.GLOBO)


          Entrou em discussão na Comissão dos Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, há mais de um mês, a proposta que revoga dois artigos da resolução do Conselho Federal de Psicologia. Um impede os profissionais de tratarem dos homossexuais como doentes e o outro reforça que os psicólogos não devem se portar de forma preconceituosa em relação aos gays. Junto, o presidente da  comissão, Marco Feliciano (PSC-SP), colocou em votação o projeto que penaliza a discriminação contra heterossexuais. Evidencia-se, nesse sentido, uma inversão dos valores defendidos até a entrada desta gestão, que atendia aos interesses das minorias.
O projeto, aprovado depois de cinco tentativas, é conhecido por "cura gay", uma vez que busca permitir que a psicologia trate dos homossexuais como doentes mentais, assim como os evangélicos fazem, só que estes os curam retirando os demônios. Como a equipe é formada, majoritariamente, por membros da bancada evangélica da Câmara, a aprovação do texto era tida como certa por muitos.
Entretanto, o primeiro problema aparece já na escolha do Deputado Pastor Marco Feliciano como presidente da comissão, uma vez que ele responde a um processo no Supremo Tribunal Federal que o acusa de homofobia. E como transcreve o site da Câmara dos Deputados, "Suas atribuições (da comissão) constitucionais e regimentais são receber, avaliar e investigar denúncias de violações de direitos humanos [...] cuidar dos assuntos referentes às minorias étnicas e sociais [...] e contribuir para a afirmação dos direitos humanos."
Portanto, a comissão deveria, constitucionalmente, investigar Marco Feliciano. Propor a criminalização do preconceito e homofobia. E incentivar, também, o respeito às diferenças, assim como promover ações com fins educativos que transmitam os valores culturais influentes na sexualidade dos brasileiros.
A psicologia defende que a homossexualidade não é doença, distúrbio ou perversão, e que no meio social existe um problema com relação às práticas sexuais que divergem das estabelecidas, socio culturalmente. Dessa forma, em resolução do CFP Nº 001/99: 
Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas.
Art. 3° - os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.

Tais artigos seguem os passos da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, em 1990, excluiu a tipificação de patologia à homossexualidade. O que não retira a possibilidade do psicólogo em trabalhar com as dores provenientes da orientação sexual. Como é a luta da psicóloga Marisa Lobo, ativista em favor do projeto, que só não entendeu que para este fim o regulamento não precisava ser aprovado. Um caso famoso de punição do CFP é o da psicóloga carioca, Rozângela Alvez Justino, que tentava transformar em heterossexuais todos os indivíduos que se relacionavam com o mesmo sexo e frequentavam seu escritório.
Cabe explicar aqui como funciona o processo da "cura" pelos evangélicos - não que todos considerem os homossexuais como doentes, mas é uma doutrina da religião, que não é proibida por lei. Em entrevista à revista Expressão, Célio Soares, de Fortaleza, conta como foi transformado de travesti para um homem de Deus, milagrosamente. "Antes de ser transformado por Jesus, era um escravo do Satanás.", relata a revista ao comparar a opção de vida de Célio como incumbência de um demônio. O "curado" conta que apenas subiu no altar depois da chamada do espírito, acreditou, e saiu de lá como outra pessoa. Ele disse que antes era portador do vírus do HIV, e que ao deixar a sede da Assembléia de Deus, naquele dia, fez exame e deu negativo. Esse, e vários outros relatos podem ser lidos aqui.
Entretanto, nem todos os tratamentos são tão simples. Um jovem do Pará, que preferiu não se identificar, relatou a sua experiência traumática com a cura evangélica: "Meus pais são evangélicos, e são contra a minha escolha. Obrigaram-me a participar do tratamento. Era uma lavagem cerebral sexual". O adolescente conta que depois do incidente, nunca mais conseguiu se relacionar com ninguém, "o pastor disse que é melhor um assexuado do que uma bicha". Esses casos, sim, deveriam ser tratados pela psicologia.
Essa sentença é equivalente ao do Deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), suplente da CDHM que causou polêmica em 2010 pelas declarações homofóbicas. Nelas, ele defendia a violência contra crianças que possuem tendências homossexuais: " O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele".
           Ao que parece, o Brasil regride na questão dos Direitos Humanos. Com esse retardamento, caso a proposta seja aprovada, pode iniciar-se o processo de criminalização do homossexual. Primeiro, o que era tido como homossexualidade, volta a ser homossexualismo, daí só falta adicionar pena de morte, como acontece na Somália.





Crítica ao segmento
Aqui vai uma crítica aos mais interessados nessa história. Não existe nenhuma resposta audível/visível a esta tomada de decisão. Não dá para entender se o grupo GLS quer se passar por doente ou se, só se importam com mobilização no dia da Parada da Diversidade e Orgulho Gay, que daí é festa. Ninguém, realmente, está lá para manifestar, como o nome sugere é para se mostrar, transmitir o orgulho que se tem por ser diferenciado com relação à orientação sexual. Cadê a mobilização? Este é o momento em que as vozes serão ouvidas.

28 de mai. de 2013

Todo o mundo é bicha, menos o jornalismo moderno

Por Lucas Panek



                      Peguei o volume nº54 do jornal alternativo Pasquim, que acabou caindo em minhas mãos num momento bem propício. Estava revoltado com o conservadorismo hétero-machista dessa sociedade que vive criticando as mulheres feministas e os homens homossexuais.
               Abri-o, folhei, li aquelas reportagens bem humoradas, escritas como se fossem, também, universais e pessoais. Sensacionais e utópicas para o jornalismo do meu tempo. Mas nada se comparou ao momento em que a palavra bicha saltou na minha cara num texto incrível do Tarso de Castro, intitulado “BICHA”. Pois sim, a palavra bicha chama a atenção de qualquer homem – questão de fetiche. Caso contrário, o Pasquim não teria batido seu recorde de vendas com um exemplar que dizia “TODO PAULISTA É BICHA”.
                      Bateu, então, aquela vontade de sair listando todos os bichas que eu conheço, só para provar que é muita gente. Gente famosa, rica, alta, bonita, com voz grossa, trejeitos de macho: sabe aquele ex-candidato a prefeito de Curitiba, Rafael Greca? É bicha, ele e o assessor dele. O filho do diretor de imagens esportivas da RPCTV é bicha, também. Bicha é o Julio que trabalha na ÓTV. O Miss Pinhais, cheira a bicha. Mais bicha do que a belíssima crossdresser Nicoly Bianucci, não tem. Wedson, editor da Moda Shoes Brasil, é bicha. Miguel Falabela? Bichonaaa. Meus amigos são todos bichas...
              A vontade passou pela metade. Baixou em mim que de nada adiantaria, para o jornalismo moderno, você sair citando todos os gays que você conhece, muito menos usar a palavra bicha, numa matéria. O editor marcaria a palavra em vermelho e adicionaria aqueles comentários do tipo: “Você não leu o manual de redação? Use homossexual”.
            Minha insatisfação mudou de foco, a questão foi para o jornalismo. Como estudante de Comunicação Social, a leitura do volume me trouxe algumas reflexões sobre a mídia dos nossos tempos.
                    A questão é o humor, que, no Pasquim, era usado pelos repórteres como opção de jornalismo. Na imprensa de hoje, o humor é feito por meia dúzia de profissionais que pensam na piada como desfrute pessoal e acabam apelando para o riso do politicamente incorreto. Daí, o bicha fica proibido porque é usado como forma de preconceito, e não humor.
               Sei que esse texto nunca seria publicado. Porque a palavra bicha, na imprensa atual, é vulgar, esdrúxula. Falta o humor, a sensibilidade do riso sem perversão. A vontade de combater os males do preconceito, da transmissão da informação objetiva, deixa o jornalismo moderno um pouco engessado e, aí sim, preconceituoso. Ajuda a disseminar no senso comum que não se deve usar a palavra bicha. Use sim, se não for pro humor negro. E quem sabe, não seria o Pasquim a resposta para esse jornalismo moderno?

23 de mai. de 2013

Homossexualidade vira debate no espaço público curitibano

A morte de um homossexual a cada 36 horas no país acende a discussão sobre o assunto em Curitiba.
LUCAS PANEK
O Brasil é o país que registra o maior número de crimes homofóbicos no mundo. Os dados são do Grupo Gay da Bahia (GGB) que aponta um assassinato de homossexual a cada 36 horas, no país. Nesse contexto, questões como a aprovação do Estatuto da Diversidade Sexual que está em votação no Senado, a educação nas escolas e a promoção do respeito às diferenças sexuais são levantadas em espaços públicos de todo o país.
O cenário de violência nacional contra os gays se reproduz de norte a sul, inclusive aqui em Curitiba. Washington Vargas, 22, é auxiliar de escritório de advocacia e trabalha há um ano com processos penais. Sempre teve contato com ações judiciais movidas por homofobia, mas nunca imaginou que, um dia, seria uma das vítimas: “Eu jogava vôlei no SESC Centro, mas, fui obrigado a parar de jogar por medo de que as ações homofóbicas de alguns seguranças tomassem proporções maiores”. O jovem contou que sofreu uma ameaça, de um segurança, por beijar seu namorado no ginásio. Disse, ainda, que a equipe de segurança passou a persegui-los dentro do estabelecimento e a fazer reclamações, sem fundamento, do casal à coordenação do SESC.
O Presidente da Aliança LGBT (Lésbicas, Gays, Bis e Travestis), de Curitiba, Thon Cris Paiva, citou alguns outros casos que chocaram a cidade: um casal gay foi ameaçado num cinema famoso da cidade por causa de um beijo; por andarem de mãos dadas, um motoboy abordou um casal de lésbicas  e quase as  agrediu; outro casal de homens foi “convidado” a se retirar de um restaurante por causa de um selinho.

Thon Cris Paiva, presidente da Aliança Jovem LGBT
(créditos: Thon Cris Paiva).
Paiva explicou que esses crimes acontecem todos os dias na cidade, porém são poucos aqueles que os denunciam. O ativista comentou também que essas situações devem ser levadas até a instituição e denunciadas no Disk 100 da Secretaria de Direitos Humanos da República. Ele elencou algumas medidas que são tomadas a partir de uma denúncia: “A Aliança entra em contato com o estabelecimento onde ocorreu um caso de discriminação ou violência, para pedir um posicionamento e reivindicar soluções.” Caso não haja resposta, o presidente disse que outras instâncias são requisitadas: “Podemos envolver até o Ministério Público”.
Em retratação ao ocorrido no SESC, a Aliança notificou: “Nosso posicionamento é de repúdio. O SESC é responsável pela integridade física e moral dos seus clientes. Deveriam tomar um posicionamento de respeito ao ser humano e, principalmente, à diversidade humana”.
Ao levar em conta a necessidade de aprofundar a discussão sobre os direitos desse grupo minoritário, tornando-a tema em sala de aula e na sociedade, surgiu o Estatuto da Diversidade Sexual, a partir de iniciativa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
O Estatuto da Diversidade Sexual
O projeto teve origem a partir da necessidade, percebida pela OAB-Brasil, de uma legislação voltada para o segmento LGBT. A entidade criou um grupo de juristas e formou a Comissão da Diversidade Sexual, instalada pela primeira vez em março de 2009.
A elaboração do projeto contou com a participação de movimentos sociais de todo o país por meio de sugestões de emendas. Três propostas de emendas na Constituição foram levadas para o Congresso Nacional. O Estatuto encontra-se, atualmente, em votação no Senado.
Para Maria Berenice Dias, advogada e presidente da comissão (http://www.direitohomoafetivo.com.br/), o motriz dessa ação gira em torno do fato de que, até hoje, a Justiça não poder punir atitudes de viés discriminatório por falta de embasamento legal: “Ninguém pode ser condenado sem lei que tipifique a ação como delituosa”.
Respeito às diferenças sexuais
As diferenças sexuais sempre foram polêmicas ao longo da história e no Brasil, um país bastante moralista e machista, onde os avanços na área se apresentaram ainda mais difíceis do que nos Estados Unidos ou em outros países europeus.
A historiadora Mary del Priore relata em seu  livro Histórias Íntimas, sexualidade e erotismo na história do Brasil (Editora Planeta, 2011), que as lutas homossexuais sempre foram sufocadas pelo preconceito das relações sociais com os grupos minoritários. A
banalização de tais grupos era feita pela mídia num processo de generalização do segmento em personagens caricaturados.
A moral vigente de diversas épocas censurou a homossexualidade, no país, de diferentes maneiras. No período da Colônia, quando a religião católica ditava os costumes, ser gay era pecado prescrito na Bíblia. A relação sexual entre dois homens passou a ser crime constitucional no século XIX. No início do século XX, homossexualidade virou homossexualismo e era estudada e disseminada como uma doença. Na década de 1980, com o surgimento e o avanço da AIDS, como doença contagiosa que tem como uma das principais causas o contato sexual, os gays passaram a ser considerados disseminadores da epidemia. Atualmente, expressar sua orientação sexual em público é visto como atentado ao pudor —- crime contra os costumes/tradição, previsto no Código Penal.
O preconceito na população brasileira está bastante inserido na cultura  de todas as classes sociais, mesmo que reconheçam o direito à diversidade sexual.  Reinaldo Henrique, 23 anos, é comentarista em blogs que debatem sobre sexualidade. Para ele, qualquer um tem o direito de se relacionar com pessoas do mesmo sexo, porém ressalta: “Eles que façam o que quiserem dentro de suas casas e não nos façam engolir os seus costumes em público”.  A luta do grupo LGBTTs, inclui transexuais, transgêneros e simpatizantes, em Curitiba, há algum tempo está voltada para a efetivação de seus direitos e a busca de respeito. Para Maria Berenice Dias, beijar em público não é crime, portanto é um direito de qualquer um e deve ser respeitado.
Educação nas escolas
Assim como a moral social ainda não aceita a homossexualidade de forma natural, a educação também não aborda de forma efetiva o assunto. O caso dos kits gays — cartilhas orientadoras sobre o tema — exemplifica bem essa imaturidade social curitibana, Os kits que eram distribuídos em escolas para a conscientização de estudantes viraram polêmica em Curitiba, uma vez que os pais não aceitavam que seus filhos fossem obrigados a entrar em contato com tal universo. O Governo acatou a maioria e retirou os kits.
Projetos a serem implantados podem se espelhar num programa piloto financiado pela Fundação Europeia da Juventude do Conselho da Europa, o Educação LGBT. Criado pela rede Ex aequo — rede LGBT de jovens portugueses, o modelo foca na disseminação de informações sobre o tema no que tange à sexualidade em séries acima do sétimo ano escolar.  Washington Vargas, vítima de preconceito, entende que faltam políticas públicas efetivas para lutar em âmbito jurídico e social, inclusive, contra a situação no país e em Curitiba.

2 de mai. de 2013

Um viva à cadeia do desenvolvimento!

Por Lucas Panek


Uma pesquisa do Datafolha divulgada no dia 17 de Abril apontou que 93% dos moradores de São Paulo são a favor da redução da maioridade penal e apenas 6% são contra. Essa disparidade de opinião parece não levar em conta aspectos sociais, políticos e comportamentais nos quais o adolescente está inserido.
Imagine, então: Um garoto de 14 anos é abandonado pelos pais e sem saber a quem recorrer, começa a morar na rua. Nesse universo, envolve-se com drogas. Surge, assim, a necessidade de arranjar dinheiro para pagar suas dívidas com os traficantes. Outros meninos o ensinam um trabalho que dá dinheiro rápido, o roubo. Ele começa com objetos para vender, os gastos aumentam. Parte para o dinheiro, mais gastos. Termina, aos 16 anos, trabalhando para o tráfico.
Essa história ilustra uma infinidade de crimes cometidos por menores de idade. A culpa, nesses casos, não é do jovem. Analiticamente, a responsabilidade desse desfecho deveria recair nos pais e num Estado falho que não cumpre com o seu dever definido no ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, promulgado em 1990.
Pelo ECA , aos adolescentes são assegurados certos direitos como a vida, a saúde, a educação, a alimentação, a cultura,  a dignidade, o respeito, a liberdade etc. Seria, portanto, a cadeia o melhor ambiente para o jovem usufruir desses direitos?
Cadeias, que no Rio de Janeiro, em 2007, não ofereciam papel higiênico nem absorvente para nenhum preso ou presa há mais de 4 anos. O adolescente – 12 a 18 anos – encontra-se numa fase de desenvolvimento tanto do seu caráter humano quanto das suas habilidades psicomotoras. Tal momento de instabilidade requer ajuda para a manutenção do menor no caminho do desenvolvimento, e não uma injeção de precariedade nas suas necessidades básicas.
Como dizia o fundador do IBASE – Instituto brasileiro de análises sociais e econômicas, sociólogo Herbert de Souza “Se não vejo na criança, uma criança, é porque alguém a violentou antes; e o que vejo é o que sobrou de tudo o que lhe foi tirado.”.
A inimputabilidade penal do adolescente na legislação brasileira, incluída na constituição de 1988 no Art. 228, não retira a responsabilidade pelo crime cometido. Ela, apenas, reverte a punição das Leis de Execuções Penais para medidas socioeducativas que atuam na ressocialização do indivíduo.
Tais medidas podem variar desde uma advertência, o reparo do dano, ou a prestação de serviços à comunidade até o internato. Sendo que este último deveria ser usado apenas em casos extremos, porém parece que os juízes nem refletem a respeito e ordenam logo a internação. Um relatório da ONG Human Rights Watch aponta que, em 2004, cinco dos seis centros de internamento estavam superlotados no Rio de Janeiro, e ainda que, nos anos seguintes, a situação piorou.
Dessa forma, não adianta a nação engendrar toda a culpa de um crime, da violência, no menor infrator. A construção dos critérios que giram em torno da maioridade penal deve ser analisada nos âmbitos político, social, penal e cultural. Deve a população ser, portanto, consciente desses aspectos. Lutam todos pela liberdade, mas não pensam que a repressão não é a maneira adequada de se formar um indivíduo sadio.
É adequado, pelo ponto de vista da Psicologia, que a sociedade vise corrigir educacionalmente a conduta dos menores infratores. Uma vez que a violência não é concertada através de punições, como é o objetivo da redução da idade de responsabilidade penal. Não adianta tratar do efeito. Neste momento, é necessário que a sociedade trate da causa, e a causa não é o jovem.

2 de abr. de 2013

Bochechas Vermelhas


_ Branquinho do rosto vermelho - Ele falou baixinho no meu ouvido enquanto dava mordidinhas na minha orelha.
Senti as maçãs do meu rosto ficando mais quentes e vermelhas.
_Pele de pêssego, ficou com vergonha? - Perguntou ele, com as mãos no meu rosto, olhando meus olhos.
Resolvi entrar na brincadeira:
_ Você sabe o porquê desse calor todo.
Fazendo-se de desentendido, ele respondeu com aquele sorriso escondido no canto da boca:
_ Não, sei não. 
_ É todo por causa do que você faz comigo.
Num suspiro, uma mão na nuca dele e os lábios se tocando, eu disse:
- Ou o seu corpo faz comigo.
Ele riu e me beijou com força. Afastei-me depois de algum tempo e perguntei:
_ Então esse é seu ponto fraco? Bochechas vermelhas?
_ É um deles. Disse-me, piscando.
_ Quais são os outros?
Ele riu, inclinou a cabeça com aquele olhar safado e me disse:
_ Beijinhos na barriga. Daí desce, desce e desce...

13 de dez. de 2012

O que importa é o SEXO



Lucas, solteiro de 38 anos, trabalha como analista de sistemas. Pedro, 52 anos, casado e pai de dois filhos. Douglas, 22 anos, estudante de engenharia mecânica. Três homens. Duas palavras. Um banheiro. Lucas, Pedro e Douglas (nomes fictícios) são “dependentes sexuais” e recorrem ao banheiro público da Praça Osório para satisfazerem sua “hipersexualidade”.
O sanitário masculino funciona como um Dark Room – quarto escuro, famosos em algumas boates como Pepper e Cats – porém com a vantagem de ser em um ambiente claro. O espaço conta com quatro mictórios e cinco cabines.
Os urinóis ficam preenchidos por homens que fingem urinar. “A cabeça virada para o lado e inclinada para baixo deixa a pista do que realmente aqueles caras querem.” explica Douglas. As cabines permanecem a maior parte do tempo fechada, funcionando como “quatro paredes”. De vez em quando, avista-se um homem nu a espera do próximo cliente. Lucas afirma que alguns cobram pelos serviços, mas que a maioria vai lá por prazer, diversão e sexo.
Num período de 30 minutos de observação, cerca de trinta homens entraram no banheiro, chegando a formar filas no recinto. A maioria dos frequentadores aparentava mais de 50 anos. Porém Pedro denuncia “Tem muito menininho de 14 anos que vem aqui também, eles sempre querem fazer alguma sacanagem, loucos por um oral”.
O desejo sexual excessivo em questão é considerado no Código Internacional de Doenças publicado pela Organização Mundial da Saúde. Os fetiches são apontados como maiores responsáveis pela compulsão por sexo nesse caso específico. A necessidade de frequentar sempre aquele lugar adquire um caráter narcotizante para os homens entrevistados.
Os três afirmam manter a sua vida normalmente. Eles levam o banheiro apenas como um refúgio sexual. Porém toda essa atividade entra em conflito quando fere a integridade do papel real do banheiro. Taís, vendedora da feirinha de Natal, reclamou que seu namorado nunca mais teve coragem de voltar ao banheiro depois de ter presenciado os atos recorrentes no sanitário.
O policial Antônio Luiz, explicou que o posicionamento da coorporação é de agir em caso de denúncia de constrangimento ou abuso sexual. Em qualquer uma dessas situações os acusados sofrem um ato infracional.
Pedro enfrenta essa rotina há 10 anos, Lucas há 4 e Douglas há 1. Porém nenhum deles se conhecem pelo nome. Apenas pelo tamanho. 

3 de dez. de 2012

Um desabafo de amor




Sempre fui bom em esconder sentimentos, mas chega uma hora que manter tudo em segredo começa a me machucar.
O motivo não é você. O motivo é a situação. Tente imaginar, só por um minuto, como está sendo para mim.
Estava totalmente vazio, e, de repente, alguém aparece. Alguém que foge completamente de tudo o que eu sempre busquei. Mas aos poucos, essa pessoa vai me chamando a atenção e me encantando. Eu começo a me pegar pensando nessa pessoa, sonhando, imaginando como seria.
Esses pensamentos se tornam mais frequentes a cada instante. Aí eu tomo um choque de realidade. Percebo que tudo o que imaginava ao seu lado é impossível. E algo pior me aflige: Uma pessoa, que eu imagino ser minha amiga, sente algo por essa mesma pessoa. Conheço-a bem e sei que ela não se importa com o que eu sinto, faria de tudo para destruir isso, joga sujo contra os meus sentimentos.
Começo a enfraquecer, começo a me afastar, porque não posso dizer nada ao meu amigo.
Tenho medo que a pessoa pela qual sinto algo saiba e acabe se afastando. E, assim, perderia ela para sempre.
É essa situação. A culpa não é sua. Nem minha, acho.
Só não queria que tivesse chegado a esse ponto. Não consigo mais evitar. Ou eu sufoco esse sentimento, ou eu vivo sofrendo sem fazer nada...
Optei por sufocar e contar tudo, através desse desabafo.

27 de nov. de 2012

Da arte à religião



Liane Padilha, curitibana de nascença, vive com as adversidades desde pequena por ser deficiente visual. Superou a cegueira através da música. Hoje é uma artista anônima da capital e traz uma lição de vida através do seu depoimento:
"Aprendi a fazer música quando perdi a visão. Assim que a perdi, pedi o violão emprestado pra minha vizinha. Pratiquei e aprendi sozinha. Meu pai me deixava passar fome e a minha mãe concordava com ele. Portanto, não tinha muito que fazer, acabei aprendendo para ocupar esse espaço de tempo.
Como eu era deficiente visual e não tinha uma religião. Na verdade até tinha, mas não entendia Deus. O que eu pensava sobre Ele era: “Poxa, Deus não gosta de mim, porque Ele me fez cega e já os outros conseguem enxergar”. Eu até servia a Deus da minha forma. Ia na Igreja, mas as pessoas me desprezavam, me descriminavam. E eu levava o preconceito como algo pessoal, porque isso existe mesmo. E EU QUERIA COLOCAR PARA OS SEUS AMIGOS que as desigualdades sociais e injustiças sociais não são realmente o que aparentam e o que pensamos ser. Pois tudo que acontece na vida da gente é ligado a vidas passadas. Não existe ninguém vítima do destino e não existe ninguém totalmente culpado, assim como não existe ninguém totalmente inocente. Comecei a me questionar: “Mas porque tal fulano fez maldade comigo?” Eu queria a prova antes de reencarnar. Então. Percebi que a lei da vida e a lei da reencarnação –processo de reencarnação- funcionam de formas diferentes. Se lembrar da reencarnação seria sofrer duas vezes o passado. Somos frutos do passado, mas não podemos ficar com ele preso na nossa cabeça pra afligir o nosso presente. Temos que viver o presente lembrando que estamos quitando os débitos do que passou e cuidá-lo para não criar débitos para o futuro, para, assim, podermos evoluir espiritualmente cuidando do próximo e fazendo caridade. Poderia me questionar achando que não precisaria fazer caridade por ser cega, mas eu enxergo. Quer dizer, eu não enxergo fisicamente, mas posso enxergar espiritualmente e ajudar alguém, dependendo do que Deus pedir de mim. Cada pessoa sente aquilo que Deus pede. Ninguém tem que ter mágoa de ninguém.
Agora já tenho dois CD’s. Um de música evangélica, outro de música normal. Não consegui ser artista de verdade. Então resolvi ser artista de brincadeirinha. Pedi pra Jesus primeiro a humildade, porque se eu for uma artista humilde eu não vou cair. Agora se eu for uma artista orgulhosa que esnoba as pessoas, num instante, igual fogo de palha, já cai. Nem que eu demore para ser uma artista de verdade, quero, adquirindo a humildade, continuar até o fim da minha vida sendo um artista. Escrevo música sobre a minha vida, sobre as mães. Gosto de cantar para as mães, pois ‘dia das mães’ é todo os dias, para mim.”

14 de nov. de 2012

A minha maior verdade



Sonhos são muito mais do que apenas a nossa imaginação. Sonhos transmitem parcelas da nossa verdade, da nossa realidade. E é a partir deles que essa história tomou parte na minha essência.
“Uma multidão caminhava, de cabeça baixa, morro acima. Todos vestiam capuzes marrons que contrastavam com o ambiente mórbido à sua volta e os tornava uma massa singular e homogênea. Um por um caía no penhasco e dava adeus à sua vida grotesca. E eu estava no meio de tudo aquilo. Era surreal como todos pareciam estar desprovidos das suas faculdades mentais, sem sentidos, sem perspectivas de futuro. Caminhar para a morte, todos iguais, sem convicções, sem laços, sem afetos, sem vontades. A minha vez estava chegando, e era tudo o que me restava.
Continuei caminhando naquelas terras vazias, conhecendo o meu futuro como a palma da minha mão. Todos nós estávamos seguindo o curso natural de uma VIDA, na qual o tempo controlava e perseguia os medíocres. Estava a um passo do meu fim...”
Não aguentava mais sonhar toda noite com penhascos. Resolvi me queixar para a minha mãe sobre os sonhos. Ela, sempre desconexa dos assuntos matinais, respondeu com a mesma ideia corriqueira de que não escolhemos com o que sonhamos e que eu estava paranoico. Ela ainda teve a audácia de sugerir que eu apenas dormisse, como se isso fosse possível, segundo a tese dela própria.
“Meus olhos estavam dilatados ao máximo, sentia o aroma do barro inundando o meu corpo, cada pernada que dava sentia mais as minhas forças se esvaindo e o meu fim próximo. Ele não parava de correr atrás de mim, parecia insaciável, tinha no mínimo duas vezes mais que o meu tamanho e estava quase me alcançando.
                Avistei logo em frente o final do caminho. Parecia que as alternativas eram, ou me entregava ao monstro, ou pulava e me entregava ao destino.
                Pulei. E a noite me engoliu...”
                Dessa vez, a ouvinte das minhas lamúrias foi a minha irmã. Ela sempre gostara dessas coisas de decifrar sonhos. Vivia correndo atrás de livros com significados. Porém seu conhecimento no assunto era bem escasso, uma vez que o maior hobbie dela, mesmo, era contar o sonho que tivera na noite anterior. Assim, ela acabou fazendo referência a um tal livro “Significado dos Sonhos” e sugerindo que eu fosse atrás de uma antiga conhecida nossa, a Tia Lilian.         
                A Tia Lilian era uma velha amiga da minha mãe, tinha uma sensibilidade aflorada e um conhecimento profundo sobre espiritualismo. Pretendia procura-la.
                Meu aniversário estava chegando, dia 02 de outubro, dali uma semana. Nasci no dia dos Anjos da Guarda e tinha como escudeiro o Anjo Gabriel. Esperava que ele bloqueasse tudo aquilo que estava acontecendo comigo e fizesse com que tudo voltasse a ser como antes. Como quando eu dormia, acordava e não lembrava nada, de forma que dava a impressão que eu nem tinha sonhado.
                Decidi que a procuraria caso essa tormenta continuasse depois do meu aniversário. Tudo parecia seguir bem. Passaram-se três dias sem nenhum sonho, ou pesadelo.
“Estava sentado, sozinho, na última fileira do teatro. Era uma ópera de Oberon. E Gabriel era o protagonista do espetáculo. Ao mesmo tempo em que o palco parecia tão distante, sentia Gabriel tão próximo.
As fileiras de cadeiras vermelhas estavam parcialmente vazias. Os seres que as ocupavam conversavam sobre o final do segundo ato. No momento que iniciaria o terceiro e último ato, as cortinas, ao invés de se abrirem, apenas caíram, cobrindo o chão de vermelho.
Gabriel estava lá. Encarava-me com um sorriso enorme em seu rosto. Flutuava sobre o mar escarlate que se tornara o palco. Os seres sumiram. O chão começou a ceder no início do anfiteatro. Fileira por fileira era engolida pela cratera que se formava. Dessa vez não tinha como escapar. Era o buraco que me perseguia. Mesmo assim, Gabriel continuava apenas me olhando e sorrindo. Cedi ao tempo, espaço e vontades. Deixei-me ser engolido pelo que me perseguia.”
Minha mãe parou o carro na frente da casa da sua amiga. Desci do carro sozinho. Entrei no ateliê da espírita e me deparei com ela sentada virada para a porta. O mesmo sorriso do anjo estava estampado na sua face:
                _Então você decidiu assumir sua mediunidade? 

27 de out. de 2012

Uma história sobre mim



“Era uma vez um piá polonês cujas covas da face eu, de fato, fitei.
Se tivesse eu tido bem mais sensatez, teria agarrado e beijado de vez!
Mas mesmo sem beijo, o menino levado me levou na conversa e me fez de freguês...
Tirou minhas fotos, em poses(!)... Sem pouso, eu quase fiquei.
Se liga muleke! Ou manda essas fotos ou as busco de uma vez!
Fim...”

By: L. C.