28 de mai. de 2013

Todo o mundo é bicha, menos o jornalismo moderno

Por Lucas Panek



                      Peguei o volume nº54 do jornal alternativo Pasquim, que acabou caindo em minhas mãos num momento bem propício. Estava revoltado com o conservadorismo hétero-machista dessa sociedade que vive criticando as mulheres feministas e os homens homossexuais.
               Abri-o, folhei, li aquelas reportagens bem humoradas, escritas como se fossem, também, universais e pessoais. Sensacionais e utópicas para o jornalismo do meu tempo. Mas nada se comparou ao momento em que a palavra bicha saltou na minha cara num texto incrível do Tarso de Castro, intitulado “BICHA”. Pois sim, a palavra bicha chama a atenção de qualquer homem – questão de fetiche. Caso contrário, o Pasquim não teria batido seu recorde de vendas com um exemplar que dizia “TODO PAULISTA É BICHA”.
                      Bateu, então, aquela vontade de sair listando todos os bichas que eu conheço, só para provar que é muita gente. Gente famosa, rica, alta, bonita, com voz grossa, trejeitos de macho: sabe aquele ex-candidato a prefeito de Curitiba, Rafael Greca? É bicha, ele e o assessor dele. O filho do diretor de imagens esportivas da RPCTV é bicha, também. Bicha é o Julio que trabalha na ÓTV. O Miss Pinhais, cheira a bicha. Mais bicha do que a belíssima crossdresser Nicoly Bianucci, não tem. Wedson, editor da Moda Shoes Brasil, é bicha. Miguel Falabela? Bichonaaa. Meus amigos são todos bichas...
              A vontade passou pela metade. Baixou em mim que de nada adiantaria, para o jornalismo moderno, você sair citando todos os gays que você conhece, muito menos usar a palavra bicha, numa matéria. O editor marcaria a palavra em vermelho e adicionaria aqueles comentários do tipo: “Você não leu o manual de redação? Use homossexual”.
            Minha insatisfação mudou de foco, a questão foi para o jornalismo. Como estudante de Comunicação Social, a leitura do volume me trouxe algumas reflexões sobre a mídia dos nossos tempos.
                    A questão é o humor, que, no Pasquim, era usado pelos repórteres como opção de jornalismo. Na imprensa de hoje, o humor é feito por meia dúzia de profissionais que pensam na piada como desfrute pessoal e acabam apelando para o riso do politicamente incorreto. Daí, o bicha fica proibido porque é usado como forma de preconceito, e não humor.
               Sei que esse texto nunca seria publicado. Porque a palavra bicha, na imprensa atual, é vulgar, esdrúxula. Falta o humor, a sensibilidade do riso sem perversão. A vontade de combater os males do preconceito, da transmissão da informação objetiva, deixa o jornalismo moderno um pouco engessado e, aí sim, preconceituoso. Ajuda a disseminar no senso comum que não se deve usar a palavra bicha. Use sim, se não for pro humor negro. E quem sabe, não seria o Pasquim a resposta para esse jornalismo moderno?