27 de nov. de 2012

Da arte à religião



Liane Padilha, curitibana de nascença, vive com as adversidades desde pequena por ser deficiente visual. Superou a cegueira através da música. Hoje é uma artista anônima da capital e traz uma lição de vida através do seu depoimento:
"Aprendi a fazer música quando perdi a visão. Assim que a perdi, pedi o violão emprestado pra minha vizinha. Pratiquei e aprendi sozinha. Meu pai me deixava passar fome e a minha mãe concordava com ele. Portanto, não tinha muito que fazer, acabei aprendendo para ocupar esse espaço de tempo.
Como eu era deficiente visual e não tinha uma religião. Na verdade até tinha, mas não entendia Deus. O que eu pensava sobre Ele era: “Poxa, Deus não gosta de mim, porque Ele me fez cega e já os outros conseguem enxergar”. Eu até servia a Deus da minha forma. Ia na Igreja, mas as pessoas me desprezavam, me descriminavam. E eu levava o preconceito como algo pessoal, porque isso existe mesmo. E EU QUERIA COLOCAR PARA OS SEUS AMIGOS que as desigualdades sociais e injustiças sociais não são realmente o que aparentam e o que pensamos ser. Pois tudo que acontece na vida da gente é ligado a vidas passadas. Não existe ninguém vítima do destino e não existe ninguém totalmente culpado, assim como não existe ninguém totalmente inocente. Comecei a me questionar: “Mas porque tal fulano fez maldade comigo?” Eu queria a prova antes de reencarnar. Então. Percebi que a lei da vida e a lei da reencarnação –processo de reencarnação- funcionam de formas diferentes. Se lembrar da reencarnação seria sofrer duas vezes o passado. Somos frutos do passado, mas não podemos ficar com ele preso na nossa cabeça pra afligir o nosso presente. Temos que viver o presente lembrando que estamos quitando os débitos do que passou e cuidá-lo para não criar débitos para o futuro, para, assim, podermos evoluir espiritualmente cuidando do próximo e fazendo caridade. Poderia me questionar achando que não precisaria fazer caridade por ser cega, mas eu enxergo. Quer dizer, eu não enxergo fisicamente, mas posso enxergar espiritualmente e ajudar alguém, dependendo do que Deus pedir de mim. Cada pessoa sente aquilo que Deus pede. Ninguém tem que ter mágoa de ninguém.
Agora já tenho dois CD’s. Um de música evangélica, outro de música normal. Não consegui ser artista de verdade. Então resolvi ser artista de brincadeirinha. Pedi pra Jesus primeiro a humildade, porque se eu for uma artista humilde eu não vou cair. Agora se eu for uma artista orgulhosa que esnoba as pessoas, num instante, igual fogo de palha, já cai. Nem que eu demore para ser uma artista de verdade, quero, adquirindo a humildade, continuar até o fim da minha vida sendo um artista. Escrevo música sobre a minha vida, sobre as mães. Gosto de cantar para as mães, pois ‘dia das mães’ é todo os dias, para mim.”

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