Por Lucas Panek
Peguei o volume nº54 do jornal alternativo Pasquim, que acabou caindo em minhas mãos num momento bem propício. Estava revoltado com o conservadorismo hétero-machista dessa sociedade que vive criticando as mulheres feministas e os homens homossexuais.
Abri-o, folhei, li aquelas reportagens bem humoradas, escritas como se fossem, também, universais e pessoais. Sensacionais e utópicas para o jornalismo do meu tempo. Mas nada se comparou ao momento em que a palavra bicha saltou na minha cara num texto incrível do Tarso de Castro, intitulado “BICHA”. Pois sim, a palavra bicha chama a atenção de qualquer homem – questão de fetiche. Caso contrário, o Pasquim não teria batido seu recorde de vendas com um exemplar que dizia “TODO PAULISTA É BICHA”.
Bateu, então, aquela vontade de sair listando todos os bichas que eu conheço, só para provar que é muita gente. Gente famosa, rica, alta, bonita, com voz grossa, trejeitos de macho: sabe aquele ex-candidato a prefeito de Curitiba, Rafael Greca? É bicha, ele e o assessor dele. O filho do diretor de imagens esportivas da RPCTV é bicha, também. Bicha é o Julio que trabalha na ÓTV. O Miss Pinhais, cheira a bicha. Mais bicha do que a belíssima crossdresser Nicoly Bianucci, não tem. Wedson, editor da Moda Shoes Brasil, é bicha. Miguel Falabela? Bichonaaa. Meus amigos são todos bichas...
A vontade passou pela metade. Baixou em mim que de nada adiantaria, para o jornalismo moderno, você sair citando todos os gays que você conhece, muito menos usar a palavra bicha, numa matéria. O editor marcaria a palavra em vermelho e adicionaria aqueles comentários do tipo: “Você não leu o manual de redação? Use homossexual”.
Minha insatisfação mudou de foco, a questão foi para o jornalismo. Como estudante de Comunicação Social, a leitura do volume me trouxe algumas reflexões sobre a mídia dos nossos tempos.
A questão é o humor, que, no Pasquim, era usado pelos repórteres como opção de jornalismo. Na imprensa de hoje, o humor é feito por meia dúzia de profissionais que pensam na piada como desfrute pessoal e acabam apelando para o riso do politicamente incorreto. Daí, o bicha fica proibido porque é usado como forma de preconceito, e não humor.
Sei que esse texto nunca seria publicado. Porque a palavra bicha, na imprensa atual, é vulgar, esdrúxula. Falta o humor, a sensibilidade do riso sem perversão. A vontade de combater os males do preconceito, da transmissão da informação objetiva, deixa o jornalismo moderno um pouco engessado e, aí sim, preconceituoso. Ajuda a disseminar no senso comum que não se deve usar a palavra bicha. Use sim, se não for pro humor negro. E quem sabe, não seria o Pasquim a resposta para esse jornalismo moderno?
Um comentário:
BICHA
Espécie de minhoca encontradas em casulos muita usada por pescadores!!! http://www.achando.info/bicha
É o cumulo um jornalista usar a palavra "bicha" em uma matéria, afinal, para ser um escritor, jornalista, colunista é preciso apreciar e saber usar muito bem as palavras de maneira adequada e com precisão para que não haja indignação de pessoas pensantes como o escritor desta critica. A questão é, quem gostaria de ser chamado de maneira pejorativa, mesmo que sendo brincando? Qual afrodescendente gosta de ser chamado de negão, pretinho?? A mesma coisa nós homossexuais tachados como minhocas usadas na pesca, ou como "Viado" que na verdade deveria ser "Veado", animal do conto do Walt Disney??
Eu sempre digo para que o futuro mude, para que não exista preconceito, as pessoas mais velhas devem mudar seu pensamento, mas afinal quem consegue mudar o pensamento de uma pessoa que já tem opinião formada, que já foi criada assim? O problema é que elas passam o preconceito para seus filhos e eles passam para seus filhos e assim NUNCA irá acabar isto? Eu acredito que sim, mas sei lá, tudo pode mudar.
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